quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Já não consigo dormir. Estou numa daquelas intermináveis noites, em que tudo a minha volta parece rodar e rodar e tornar a ficar no mesmo sitio. Estou cansada de mim. De ser eu. Estou cansada deste mundo deste pais destas perspectivas. Há três anos atrás plantei uma ideia de vida. Fortalecia, adubei-a alimentei-a fiz tudo pra que ela crescesse. Hoje, já não sei que vida e essa. Os lençóis cansam-me. Hiberno na esperança de que quando acordar seja tudo diferente. Estou farta de ser um ser poético e dramático. Hoje era capaz de beber sangue quente. Só pra sentir alguma coisa além deste vazio. Ou cheio já não sei mais. Acumulei-te, acumulei-vos dentro de mim e estou prestes a rebentar. Nunca soube quem eu era. Mas sempre soube esconder-me através de personagens. Através de dores que não eram a minha mas passavam por mim e ajudavam a eliminar a minha, aquela que eu não conheço e não sei qual é. Esta noite, as estrelas podiam brilhar, o sol podia crescer. Mas à minha volta está só um buraco negro. Sinto-me um buraco negro. Aquele que teve perspectivas pra ser uma estrela e que morreu antes de ter esse nome. Agora parece querer sugar tudo o que havia de bom. Olho pra um lado e vejo me casada. Olho pro outro e perdi um filho. Olho pra outro e estou a beber um chá quente que me levará a uma morte divina. Apesar de para o mundo isto não ser real. Foi a minha realidade. E neste momento qualquer uma delas me parece melhor que este ridículo computador que está a minha frente e esta existência sem qualquer fim. Nunca me hei-de matar. Sou covarde demais pra isso. Não estou depressiva, apesar do meu discurso parecer depressivo. Simplesmente estou cansada de usar a minha energia pra tentar parecer feliz, e conseguir evitar assuntos dos quais não quero falar com um simples sorriso.  Há um ano atrás chamavam-me de louca. Há um ano atrás era uma bêbeda que já sorria da sua própria desgraça. Há um ano atrás a Amélia tomava conta de mim de uma maneira que ainda hoje não consigo explicar. A minha cara mudou por eu ter passado por aquilo, o meu rosto mudou. Eu mudei fisicamente. Não sei como nem porque. Tenho vinte e um anos e já tive um filho. Já estive morta. Já menti. Já lutei. Já quase morri de dor. Mas quando era de noite e estava nos meus lençóis, eles não me cansavam. Eu já fui feliz, sendo infeliz. E agora tudo o que me pedem é que seja outra coisa qualquer. Eu costumava sentir dentro de mim uma sensação de que tudo ia correr bem. Eu costumava a achar que tudo ia correr bem. Que eu ia ter o meu espaço, a minha oportunidade. Eu sei que tem de se lutar. Mas a dor que me invade é tão grande que eu simplesmente não consigo mais. Sou um buraco negro. Tenho um cancro colado ao coração. Estou numa jaula. Sinto me um leão numa jaula. A minha família diz que estou a desistir. Eles não sabem que é amar uma arte. Sabem o que amar pessoas, estatutos, situações, coisas, bem melhor do que eu. Sabem dar-se ao mundo e viver nele como eu nunca saberei. É por isso que eu neste momento já me pergunto o qual é a minha missão. Nunca disse isto a ninguém. Mas eu estou a morrer aos poucos. E sei que todos estamos. Mas eu estou por dentro. Não são as minhas capacidades físicas ou os meus órgãos. Sou eu. Dizem que as almas pesam 21gramas. Há dois anos atrás era capaz de jurar que a minha pesava o dobro. Hoje sinto que me levaram a alma e o que ficou foi so um peso inútil na garganta que me impede de respirar livremente. Já fui Cassandra intitulada de louca. Vi os meus pais morrerem a minha frente e o meu país a ser devastado. Já fui escrava sexual de um rei. Já morri a servir um deus. E nesse momento era feliz. O meu peito contorce-se. O meu coração diminui. Estou a ficar transparente. Estou a desaparecer.

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